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J. B. Woolger e R. J. Woolger

Na época atual, onde o feminino e a mulher estão se desenvolvendo com mais rapidez e profundidade, onde o homem já não tem tanta certeza da sua superioridade, encontramos no livro “A Deusa Interior”, um manual de orientação teórico e prático para quem quiser encontrar e equilibrar as forças dos arquétipos (ditos femininos) dentro de si.

O casal de autores destacaram seis deusas do panteão da mitologia grega (Atena, Ártemis, Hera, Perséfone, Afrodite e Deméter) e nas suas histórias, com muitos exemplos práticos, demonstram que as mulheres podem encontrar um reflexo da antiguidade no seu dia-a-dia: com a família, o trabalho e o lazer.

A ‘psicologia das deusas’ usa o barco que Jung tão sabiamente construiu e navegando na mitologia grega aporta no coração feminino, tanto das mulheres quanto dos homens. Após uma consistente narrativa dos mitos das deusas gregas, os autores passam a uma série de exemplos de casos de sucesso, sempre na busca do equilíbrio das forças divinas na mulher.

No final do livro uma interessante lista de filmes, onde as características das deusas são retratadas pela indústria do entretenimento.

Para as mulheres em busca do autoconhecimento é um livro que vale a pena conferir.

Paulo Costa de Souza

Marion Woodman

Em 1968, Marion foi parar na Índia em busca de um guru, mas não o encontrou. Encontrou-o na Inglaterra, na figura de E. A. Bennet e com ele fez análise de 1970 até 1971. Em 1974 foi hospitalizada com uma doença psicossomática. A mexida na sua psique foi tão intensa que a levou para Zürich, onde ficou até 1979 estudando Jung.

Daí em diante escreveu alguns livros e este é uma coletânea com quinze capítulos, dos quais três são reportagens, dois são artigos e dez são entrevistas, realizados entre os anos de 1988 e 1992. O título do livro não nos diz exatamente o que vamos encontrar no seu interior. Os tópicos abordados vão além da ‘Feminilidade Consciente’. Presumo que o título foi uma homenagem as mulheres que sem dúvida estão buscando mais as suas almas do que os homens. Marion fala bastante sobre os vícios e aborda outros temas junguianos com bastante profundidade.

A variedade do conteúdo não tira méritos do livro, muito pelo contrário. Woodman é até mais famosa pelas suas exposições orais do que pelos seus escritos. O que torna sua narrativa convincente é que ela experienciou tudo que afirma e se apresenta como uma velha sábia que se expõe para mostrar que as transformações são possíveis e não incluem o fator idade. Viveu os problemas com o corpo e o vício na juventude e deu uma guinada em sua vida quando tinha 42 anos.

Paulo Costa de Souza

John Sanford

O livro é dividido em duas grandes partes. A primeira é um estudo sobre a ‘reencarnação’ e a segunda sobre o ‘destino da Alma’. Os dois temas são enfocados por diferentes aspectos: o ângulo do hinduísmo, a visão da Grécia como representante do ocidente, a Bíblia como documento judeu e cristão e finalmente pela igreja primitiva.

Sanford é um autor abrangente e muito envolvente – a Paulus já publicou quatro obras suas. Ele trabalha o tema religioso com uma visão psicológica e não negando suas origens anglicanas, pesa com cuidado todos os aspectos de matéria tão delicada. Por conseguinte, os leitores, assim como os golfinhos (símbolos da reencarnação), devem mergulhar no mar profundo de Sanford e logo em seguida respirar oxigênio de outras religiões; para no balanço final, terem as respostas pessoais e individuais para as suas angústias enquanto estiverem na roda da Samsara.

O livro é simplesmente imperdível. Se alguém, alguma vez na vida perguntou-se: a reencarnação existe?… então, precisa ler o livro de Sanford. Como todos nós já pensamos pelo menos uma vez no assunto, devemos ler o livro; mesmo que depois de lê-lo continuemos com a mesma opinião anterior. Aliás, o livro não tem o objetivo de convencer o leitor de uma coisa nem de outra. O livro coloca todos os argumentos possíveis e deixa para nós a resposta ou as dúvidas.

Paulo Costa de Souza

Edward Hoffman

Eu começaria agradecendo à editora Palas Athena por publicar uma tradução de um livro sobre Jung, embora se me fosse dado escolher, este não estaria entre os dez mais. Vale ressaltar, que a Palas Athena é uma editora que sempre publicou livros importantes para o desenvolvimento da cultura no Brasil, mas, como seu primeiro e único livro sobre Jung deixou a desejar.
O livro é composto por duas partes, uma inicial bem menor, onde o autor ou organizador faz uma exposição breve sobre a vida de Jung e, uma segunda que compõe o corpo do livro e faz um apanhado de citações do psicólogo suíço.

Fazer uma seleção de frases de Jung e colocá-las agrupadas sob um título escolhido pelo organizador, soa como um manual de auto-ajuda, e tira muito a força de Jung nas suas extensas narrativas, onde o contexto total é que faz um sentido maior. O título “Conselhos para uma vida de sucesso”, usado para o último agrupamento, chega a soar esquisito, para quem conhece alguma coisa da obra de Jung.

O mais grave do livro é que na segunda parte dele, após cada citação, aparece um número entre parêntesis e sobre ele nada é dito. No final do livro não existe nenhuma lista numerada que poderia nos levar, por intuição e associação, a uma correspondência. Com a curiosidade aguçada fui à “Lista de Fontes”, no final do volume e numerei-a cuidadosamente. Depois fiz algumas comparações com os números das citações e as ‘obras completas’ de Jung. Tive a surpresa de ver que batiam. Para uma editora do porte da Palas Athena a ocorrência é no mínimo lastimável.

Nas 40 páginas sobre a vida de Jung, o autor comete vários escorregões que não cabem discutir aqui. Para saber sobre a vida de Jung já temos bons livros em português, traduzido ou não e este não vai fazer falta.

Paulo Costa de Souza

Lewis Carroll

Falar sobre as histórias de “Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “Através do Espelho” seria muita pretensão. Esses contos, feitos inicialmente para crianças, tornaram-se ao longo de quase 140 anos, os mais comentados e apresentados em peças teatrais, filmes e desenhos.

Pretendo falar um pouco deste livro estruturado por Martin Gardner. Em primeiro lugar não posso deixar de ressaltar a edição brasileira executada pela Jorge Zahar Editor. É uma edição requintada que prima pelo bom gosto em todos os sentidos. Em resumo, é um livro que dá prazer de segurar e manusear.

Não bastasse a apresentação, temos em mãos uma tradução elaborada e cuidadosa. O comentador das histórias de Alice relata junto com o texto (usando meia página vertical) todos os comentários possíveis e esclarecedores que nos ajudam a entender como foi criada obra tão sensível.
Outro detalhe importante é que esta edição vem acompanhada de todos os desenhos originais de John Tenniel e ainda, no final, de alguns esboços não publicados. O apêndice é enriquecido com uma bibliografia selecionada, uma extensa e completa lista da filmografia da história e de uma pequena biografia dos autores.

Foi também acrescentado o episódio inédito: “O Marimbondo de Peruca”, só descoberto em 1974 e que, portanto, não constava de obras anteriores a este ano. Para quem já viu muitas edições de Alice, do reverendo Charles L. Dogson (1832-1898) ¾ mais conhecido por Lewis Carroll ¾ esta com certeza pode ser chamada de completa e definitiva.

Paulo Costa de Souza

Eve Jackson

Eve nos proporciona um passeio psicológico pelo mundo do alimento, abordando a comida e a alimentação de uma maneira abrangente. O livro está recheado de sonhos de seus pacientes e leva uma cobertura de mitos e citações, que nos ajudam a ter uma visão mais holística do relacionamento ego-corpo. A receita foi pincelada de contra-ponto intelectual e assada no fogo brando da imparcialidade.

A jornada começa com uma explanação sobre a cadeia alimentar e usa os mitos como referência. Jackson faz uma interessante avaliação histórica desde os primórdios do ser humano, comentando os hábitos alimentares das diferentes épocas.

Em seguida caminha pelos diversos tipos de alimentos e sua correlação com a psique.

Em outro tópico, a comida é vista como um dos alicerces do relacionamento interpessoal e, o ato de comer é abordado como um ponto de socialização.
Finaliza a senda alimentar com uma abordagem simbólica do processo digestivo e seus diversos órgãos.

Nesse capítulo fala da digestão e das implicações psicológicas de cada estágio, discutindo, item por item, o caminho do alimento pelo nosso corpo e suas relações com a psique. O livro é leve, saboroso e de fácil digestão. Bom apetite!

Paulo Costa de Souza

Joseph Campbell

“O material do mito é o material da nossa vida, do nosso corpo, do nosso ambiente;…”

Com essas palavras Campbell inicia uma série de treze conferências que foram transformadas neste interessante livro. O autor percorre os mitos do mundo obedecendo uma ordem cronológica, desde a pré-história e termina na época medieval, com os contos da corte do rei Arthur.

No desenrolar de sua exposição, ele ressalta com propriedade a importância do mito para a psicologia profunda. Vai comparando os mitos entre si e, sempre que possível, mostra as convergências e equivalências desses mitos em povos tão distantes no tempo e no espaço.

Como todo escritor que possui uma grande bagagem cultural seu texto é denso, mas ele soube amenizar muito bem este fato recheando a narrativa com muitas histórias saborosas.

O livro está ricamente ilustrado com fotos retiradas dos seus inúmeros ‘slides’, o que torna a tarefa do leitor mais agradável. Não perca.

Paulo Costa de Souza

Gustavo Barcellos

A Associação Junguiana do Brasil produziu sua primeira revista no ano passado, intitulada “Cadernos Junguianos” e veio com uma periodicidade anual. De pronto impressiona sua apresentação muito bem cuidada e identificamos o dedo do seu editor, Gustavo Barcellos.

Começo falando do artigo do Ulson que resume a história do movimento junguiano no Brasil, pois sem história não existe sociedade e nem indivíduo. Acho que um artigo sobre história do movimento junguiano no Brasil deveria ser obrigatório em cada número dos “Cadernos Junguianos”, ou melhor, cada junguiano brasileiro com mais de 50 anos deveria se sentir na obrigação de escrever um artigo sobre o seu viés e participação no movimento.

Não cabe aqui, por questões de espaço, falar de cada artigo em particular e em separado, principalmente porque tem um artigo da minha querida amiga Renata e eu não quero privilegiar ninguém, num grupo de articulista da monta que ora nos deparamos. A revista ficou extremamente equilibrada, pois tem um pouco de tudo: artigos de ótimo nível, entrevista, comentários de filmes e de livros, história, etc. Posso afirmara a quem me lê: a revista como um todo está irrepreensível.

Por outro lado, não poderia deixar de mencionar a instigante entrevista com Wolfgang Giegerich, que além de uma cabeça privilegiada no grupo dos pós-junguianos já é considerado por alguns como uma onda na maré de Jung. Eu como estou ainda na areia do movimento só posso aguardar com expectativa o volume dois deste ano.

Paulo Costa de Souza

C. G. Jung

As cartas de Jung foram selecionadas por A. Jaffé e G. Adler e catalogadas por data. Em um trabalho de censura, foram eliminadas as de cunho muito pessoal e mesmo assim restaram cerca de 1.000 cartas reunidas em 1.275 páginas. A editora Vozes publicou-as em três volumes: ‘1906 até 1945’, ‘1946 até 1955’ e ‘1956 até 1961’; possivelmente por razões editoriais.

Podemos inquirir o porquê de ler a correspondência particular de Jung se temos os seus livros em português. Eu diria que é por questões de sabor; as cartas são gostosas de ler e apresentam um tempero especial. Ora é a malícia, ora a jocosidade, ora a sinceridade, ora a irritação e até pitadas de puxões-de-orelha.
Jung surge mais descontraído e nos diz coisas que nunca encontramos em seus livros, como por exemplo, se teríamos vida depois da morte. Discute a relação entre o ‘bem e o mal’ com o padre White e vai até o rompimento das relações.

Pondera com E. A. Bennet sobre a ‘comprovação científica’ quando o assunto é ‘arquétipo’. Encontramos uma carta para um seu discípulo alemão, no pós-guerra, que é uma verdadeira jóia literária sobre o desvario humano. Escreve para Hermann Hesse, James Joyce, Conde Keyserling, Heinrich Zimmer, Mircea Eliade, Wolfgang Pauli, Joseph B. Rhine, Karl Kerényi, etc., enfim, é uma cornucópia de escritos de alta sensibilidade.

Se desejarem, façam como eu: coloquem os livros no criado-mudo e, toda noite, antes de dormir, leiam um pouquinho. Com certeza os sonhos vão ficar mais fáceis de compreensão e o despertar mais luminoso.

Paulo Costa de Souza

Paolo F. Pieri

Até a presente data tínhamos no mercado editorial brasileiro três dicionários junguianos em português, mas nenhum do porte deste elaborado pelo italiano Paolo Pieri e, agora a disposição do público. Nele vamos encontrar 388 verbetes descritivos e 341 que remetem aos descritivos. Os verbetes são todos lúcidos e didáticos e na sua maioria extensos (alguns preenchem 13 páginas, como no verbete ‘inconsciente’). Seus tópicos são abrangentes e chegam a incluir termos freudianos, além de outros tantos em áreas correlatas da Psicologia Analítica, como: filosofia, religião e mitologia.

O livro é muito bem cuidado e apresenta a raridade de uma capa dura que melhora em muito a sua apresentação e manuseio. No apêndice, além das referências bibliográficas e de vários índices, vamos encontrar uma cronologia dos escritos de Jung e uma relação completa das obras do mestre. É uma obra fundamental de consulta no campo da psicologia profunda e, veio numa hora em que Jung está sofrendo um incremento entre os jovens; portanto, não pode faltar na estante dos leitores de mentes buscadoras e esclarecidas.

Os livros possuem vida própria e nós mantemos um relacionamento com eles e, como todo relacionamento é preciso proximidade e identidade. A identificação é natural para quem lê o jornal; fica faltando a proximidade…

Paulo Costa de Souza

Elvina Maciel Lessa

Elvina Maciel Lessa é psicóloga, autora da tese: Cooperação e Complementaridade em equipes de trabalho: Estudo com Tipos Psicológicos de Jung, submetida ao programa de Engenharia de Produção – COPPE-UFRJ; mestre em Psicologia pelo Programa EICOS do Instituto de Psicologia da UFRJ.

O livro apresenta estudos feitos em equipes onde foi utilizada a teoria dos Tipos Psicológicos, desenvolvida em 1926 por Carl Gustav Jung. Jung revelou que as pessoas têm diferentes características comportamentais, habilidades, aptidões, atitudes e motivações que vão caracterizar os Tipos Psicológicos. O livro EQUIPES DE ALTO DESEMPENHO apresenta resultados de duas pesquisas feitas na tese de doutorado submetida na COPPE/UFRJ:

Os resultados das pesquisas revelaram que a diversidade de Tipos Psicológicos não garante os resultados de uma equipe. Constatou-se a tendência das pessoas preferirem trabalhar e considerarem complementar, alguém com o Tipo Psicológico diverso do seu, embora não seja totalmente distinto. As equipes de alto desempenho apontaram que as pessoas tiveram uma boa integração com os demais membros. Entretanto nas equipes de baixo desempenho, seus membros demonstraram ter tido muitas dificuldades entre eles, fato que pode ter causado impacto negativo os resultados dessas equipes.

Cabe ressaltar a necessidade de desenvolver na equipe, comportamentos que contribuam para o aumento de afinidades entre as pessoas especialmente o fortalecimento de comportamento ético dos seus membros. Além disso, pareceu existir relação entre o perfil do próprio indivíduo e o perfil da pessoa com quem teve maior dificuldade de trabalhar. Existe também relação entre os perfis das pessoas com quem gostaram de trabalhar e as pessoas consideradas complementares no trabalho, indicando que no trabalho de equipe afinidades e complementaridade são atributos desejáveis.

Alguns fatores podem causar impacto no desempenho de uma equipe, dentre outros:

a) A equipe vai precisar de pessoas que busquem o auto-conhecimento para que possam desenvolver todo o seu potencial, possibilitando assim que utilizem todas as suas funções psíquicas na solução dos problemas da equipe e se relacionem bem com os demais membros do grupo.

b) A equipe deve ser composta de pessoas que tenham diversidade de estilos de personalidade ou pessoas com bom desenvolvimento do Tipo ou maturidade, a fim de possibilitar a análise dos problemas a partir de vários ângulos, bem como facilitar a complementaridade entre os membros.

c) A equipe precisa ser composta de pessoas que possuam conhecimentos, habilidades e comportamentos que possam atender as necessidades das atividades propostas ou seja as demandas da equipe.

d) A equipe não deve ter uma liderança centralizada numa pessoa, mas uma liderança flexível , em que mais de uma pessoa tenha possibilidade de assumir o papel de líder.

e) A equipe precisa que as pessoas estejam motivadas e comprometidas com os resultados a serem atingidos e as necessidades dos clientes. As pessoas precisam considerar que as atividades que elas desempenham valem a pena ser realizadas.

Que esse estudo possa trazer para a discussão novos conhecimentos sobre o comportamento das pessoas e o funcionamento das equipes com base na Teoria dos Tipos Psicológicos de Jung. As empresas devem promover programas de desenvolvimento de equipe utilizando os conceitos da Teoria dos Tipos Psicológicos de Jung a fim de ampliar o auto conhecimento e apoiar o bom desenvolvimento do Tipo ou seja a maturidade das pessoas visando maior integração e sensibilidade às diferenças individuais.

Ao aplicar os conhecimentos da Tipologia Junguiana nas empresas e equipes, certamente estaremos ajudando as equipes a atingirem melhores desempenhos, além de estarmos contribuindo para a humanização das empresas.

Lessa. Elvina Equipes de Alto Desempenho Editora Vetor, SP, 2003.

A Partir dos Originais de C. G. Jung

Helmut Hark

Helmut Hark é teólogo e psicoterapeuta junguiano, muito conhecido na Alemanha e nos países Escandinavos, onde seus livros foram traduzidos. Produziu este léxico com muito esmero e mesclou profundidade e síntese. Encontramos nele 83 verbetes (cada um ocupando, em média, uma página e meia do livro) selecionados com critério e abordados em uma linguagem fácil e contundente; primeiramente nas palavras do autor e depois nas de Jung.

A descrição dos tópicos é sempre muito clara e precisa e quando necessário leva você até outros verbetes. As citações da obra do Jung estão sempre referidas, inclusive com os parágrafos e facilitam para quem quer ler o texto original. O livro pode ser manuseado como ‘um romance’ ou usado para consulta aos termos cunhados e/ou reformulados por Jung, mas é fundamental para todos aqueles que lidam com a sua obra. Tudo isso, numa edição finamente elaborada e, apresentada em capa dura, o que não é muito comum acrescida da tradução cuidadosa de Maurício Cardoso.

Paulo Costa de Souza

Luigi Zoja e Donald Williams

“Manhã de setembro” é antes de tudo uma coletânea de nove artigos de junguianos, americanos e europeus, que tentam mostrar as suas visões psicológicas do atentado as ‘Torres Gêmeas’, de Nova Iorque. Desfilam personalidades mais, e menos conhecidas, como por exemplo: James Hillman, Verena Kast, A. Guggenbühl-Craig, Luigi Zoja, etc.

Falar de psicologia junguiana no campo do ‘coletivo’ não é fácil, pelo simples fato de que Jung explicava todo o coletivo pela atitude individual. A tentativa de Williams foi muito boa, pois torna Jung mais popular e a difusão de suas idéias é muito positiva em vários aspectos.

Como o livro foi pincelado por várias mãos de artistas vamos encontrar muitas tonalidades e contrastes. Alguns puxam para o histórico, Hillman usa em demasia o eruditismo, Zoja foi muito extenso, Craig um pouco tímido… Mas, o artigo de Ann B. Ulanov vale pelo livro todo. O escrito é harmônico, tênue e profundo. Comparado com a música seria a Sonata N° 29, para piano, de Beethoven. Não consigo compreender como esta autora ainda não teve nenhum livro traduzido para o português. Depois dessa amostra grátis contamos com a nossa elite editorial para começar a nos presentear com as obras da escritora.

Paulo Costa de Souza

Richard Noll

Em primeiro lugar devemos reconhecer que o livro do Noll é bem escrito e resultou de uma cuidadosa pesquisa, com uma ampla busca de conhecimentos.

Para quem nunca leu ou folheou o ‘O Culto de Jung’, é preciso que se diga que Noll é um detrator de Jung. Sua explanação é tendenciosa e bastante equivocada. O autor distorce as palavras de Jung e percebesse que não entendeu suas idéias, se é que chegou a lê-las completamente (as obras completas de Jung somam 9.281 páginas e um ser humano comum só começa a entender um pouco da sua obra a partir da terceira leitura).
Noll não faz distinção entre Jung e junguianos e também mistura a visão dos junguianos daqueles que usam as teorias de Jung para sedimentar dogmas (Nova Era, Gnosticismo, orientalistas, místicos, etc.). Mesmo no panorama que apresenta de Jung, mistura com certa ingenuidade, sua pessoa humana com suas idéias e sua obra.

Por outro lado, Noll prestou um grande serviço (principalmente no Brasil) para a difusão das idéias de Jung. Uma grande personalidade só começa realmente a ‘aparecer’ quando surgem seus detratores e difamadores.
Para quem aprecia Jung e suas obras, assim como a de seus discípulos, é bom tomar conhecimento de um Jung mais humano e mais perto de nós. O livro é também um alerta para as ‘sociedades junguianas’ que deveriam ser menos elitistas e se preocuparem mais com a difusão do ‘verdadeiro Jung’.
Noll apresenta uma série de frases que são verdadeiras, mas no conjunto não fazem nenhum sentido e não acrescentam nada para o crescimento do ser humano.

Lembro de um dito suíço citado por Jung: “O que transborda do coração sai pela boca”.

Paulo Costa de Souza

Erich Neumann

A Editora Paulus mais uma vez contempla os leitores com um tema psicológico, que faz parte da extensa coleção ‘Amor e Psique’. O livro, ora em apreço, é composto de cinco ensaios de Neumann e tratam do feminino e do medo com bastante profundidade. Os artigos não foram compostos de forma encadeada – como em uma palestra ou seminário – e portanto, podem ser lidos a partir de qualquer um dos tópicos.

O último artigo dá nome ao livro. É uma interessante abordagem da origem do medo no ser humano, baseada no fato de que vivemos o nosso primeiro ano de vida como numa ‘bolsa marsupial’. Essa enorme dependência da mãe e sua posterior desvinculação – para depois entrarmos no mundo patriarcal – produz o medo. O 3° artigo é uma empolgante análise da ópera a ‘Flauta Mágica’, de Mozart. No 2° artigo, o simbolismo da lua, que é ao mesmo tempo abrangente e profundo, é abordado com extrema delicadeza.

No 4° artigo, Neumann aborda com coragem o arquétipo da terra e seu oposto o arquétipo do céu. Por fim, ou por começo (1° artigo), desfrutamos o complexo estudo do desenvolvimento psicológico do feminino, na mulher e no homem.

Neumann, infelizmente falecido com pouca idade, é um dos discípulos de Jung que escreve denso e profundo. Precisamos ter paciência e perseverança para ler os seus textos, e deles, tirar os ensinamentos que possuem.

Paulo Costa de Souza

Alberto Lima Filho

Alberto Lima transformou sua tese de doutorado em um livro para o público culto em geral; tarefa difícil em que muitos naufragam. Sem dúvida o livro ficou bastante denso, mas, o tema assim o pede, porque o assunto é profundo. Apesar de ser um livro de mais de quinhentas páginas é facilmente digerido, provavelmente com a ajuda da força do ‘arquétipo do pai’.

O trabalho está dividido em duas grandes partes: na primeira apresenta uma fundamentação teórica da psique e do pai e, na segunda, vem enriquecer o tema com relatos de seus casos clínicos. Ficamos com a gostosa sensação de livros dentro de um livro. O capítulo que traz o título: “Sandra, 40 anos”, vale por todo o livro. Assim como eu tive uma ‘atração projetiva’ pelo capítulo que aborda o ‘pavor às baratas’, os futuros leitores deverão ter outras, por outros capítulos.

Aos que buscam o auto-conhecimento, mas não estão muito familiarizados com Jung, Neumann ou Hillman; podem começar a leitura pela 2ª parte, onde são descritos os casos clínicos e deixar a 1ª parte, a teoria, para sedimentar o que viu na prática.

É uma obra fundamental no campo da psicologia profunda e veio para ser um marco na produção junguiana de autores brasileiros.

Paulo Costa de Souza

Carlo Ginzburg

Carlo Ginzburg reuniu nove ensaios reflexivos e nomeou-os em um livro com o título “Olhos de Madeira”. Esses olhos de madeira são os de Pinóquio no famoso conto de Carlo Collodi. Podem ser olhos de madeira que nos olham estranhamente ou podem ser os nossos olhos que deveriam ser estranhos olhos de madeira; penso que devam ser os dois.

O autor nos leva por um mundo de personagens literários bastantes conhecidos no mundo cultural das letras começando com Marco Aurélio e chegando até os nossos dias. Nos convida a olhar e ser olhado; nos convida a usar a pupila dos olhos para sermos pupilos dos olhos dos mestres; nos excita a sermos ingênuos e despretensiosos e com isso treinar e exercer o estranhamento.

Quando olhamos para um outro ser humano podemos ver um véu (de Mâyâ) embaçando o relacionamento; mas este véu está sobre o outro ou está sobre nós? Provavelmente encontraremos dois véus, mas à distância que leva ao estranhamento nos fará tirar o nosso véu para tentar nos descobrir no outro e possivelmente o outro tirará o seu véu.

A proposição de Ginzburg é difícil e ao mesmo tempo instigante. Resta-nos a coragem de nos sentir bonecos de pau, para então começar a transformação em seres de carne, osso e sangue.

Paulo Costa de Souza

Jean S. Bolen

Bolen já é nossa conhecida, pois temos muitas obras suas traduzidas. Mantém aqui o seu estilo solto e com isso, consegue uma boa penetração em diversas camadas de leitores. O livro não é uma continuação do seu ‘As Deusas e a Mulher’, é antes um contra-ponto solicitado, após o sucesso do primeiro.

Nesta importante narrativa; homens podem conhecer os oito deuses básicos que vivem dentro deles, mulheres podem entender seus relacionamentos e seus filhos e, até os deuses masculinos que as conduzem. Jean faz um passeio amplo e profundo com Zeus, Posêidon, Hades, Apolo, Hermes, Ares, Hefesto e Dioniso. Por intermédio de cada um lança uma visão multifacetada e aborda os ângulos mitológicos e psicológicos comparando-os com as fases da vida de cada um de nós. O último capítulo lança a possibilidade da formação de um novo deus-arquétipo, fechando o livro de forma brilhante e instigante; uma obra-prima…

Espero que os futuros leitores desta obra possam tirar o que de mais positivo possuem os oito deuses arquetípicos e que eles ajudem no caminho da individuação de cada um de nós, simples mortais… ainda bem… Os deuses são possibilidades de realizações e cada leitor deve preencher seus conteúdos com o que há de melhor em cada recôndito da alma…

Paulo Costa de Souza

Piers Paul Read

Ao abrir o livro, ‘Os Templários’, nos deparamos com uma narrativa histórica que prima pelo rigor dos fatos. A primeira parte é uma concisa história de Jerusalém, desde Abraão (1800 a. C.) até 1.099 d. C. e, sempre mantendo o enfoque no Templo. Read consegue resumir anos de história sem deixar de lado os fatos relevantes.

Na segunda parte aumentam os detalhes para focar a evolução dos monges-cavaleiros, sem tirar a atenção do leitor para sua narrativa. Sempre com o cuidado de mostrar os dois lados da questão, o dos cristãos e o dos mulçumanos, vai costurando a narrativa com a linha da cronologia.

Com a terceira parte, mostra o declínio e o desman–telamento da Ordem do Templo, numa visão ampla do mundo cristão, embora o julgamento principal tenha sido em território francês.

No epílogo, intitulado ‘O Veredicto da História’, o autor faz um apanhado geral de tudo o que foi dito dos Templários até os dias de hoje e, deixa a cada um de nós, a avaliação final.

Não bastasse a contundente narrativa, o livro contém 16 páginas de imagens (com 34 fotos) e 7 mapas explicativos.

Ele torna-se mais saboroso com o cuidado editorial que a Imago vem dando as suas publicações nos últimos anos. É, portanto, um livro de referência.

Paulo Costa de Souza

Uma Interpretação Psicodinâmica.

Ana-Maria Rizzuto

Rizzuto elaborou uma obra dinâmica e atraente baseada em intensas pesquisas documentais. O livro prende o leitor com sua forma encadeada e detetivesca. Mesmo que você não concorde plenamente com a resposta da autora ¾ para a pergunta, por ela mesmo elaborada ¾ vai achar o livro fascinante. Ela parte de uma visita que fez, em 1992, a uma exposição, onde fica impressionada com a coleção de antiguidades de Freud. Na exposição está uma bíblia ilustrada de Philippson que ele ganhou de seu pai em 1891. Ela vê uma correlação entre as figuras da bíblia e as estatuetas da coleção.

No caminhar da pesquisa ela descobre que a coleção começou após a morte do seu pai Jakob, em 1896. Daí ela usa o livro para demonstrar e responder a questão de Deus na vida de Freud, passando pela figura do pai, da mãe e de sua religiosidade. Não vou contar o final surpreendente. Deixo cada um de vocês caminhar com a emocionante narrativa da Ana-Maria.

Paulo Costa de Souza

Irvin Yalom

Yalom escreveu um romance tendo como personagens principais Friedrich Nietzsche e Joseph Breuer, focalizou-o no ano de 1882 e adornou-o com os coadjuvantes Sigmund Freud e Lou Salomé. Irvin, ajudado pela sua formação psiquiátrica, estudou a fundo a biografia de cada personagem e conduziu os diálogos do seu livro, de maneira a estarem o mais perto possível da realidade. Certamente escreveu uma estória de fundo psicológico, mas conservou, sempre que possível, registros da história real. De fato, o encontro entre Nietzsche e Breuer nunca ocorreu, mas não seria impossível.

Com isto, vamos encontrar Nietzsche e Breuer descobrindo juntos o melhor método para um tratamento psicanalítico e ao mesmo tempo fazendo uma reflexão sobre a vida, onde o conceito junguiano de ‘anima’ é profundamente discutido e apresentado de uma maneira prática. Aliás, o autor embora focalize a estória na época em que Jung tinha sete (7) anos, coloca uma série de abordagens típicas do psicólogo suíço.

O romance embora lide com temas pesados e profundos, como por exemplo, a verdade na relação médico-paciente, ficou fluídico como uma estória policial de Agatha Christie. Enfim, estamos frente a um livro que fará um marco na literatura universal e com certeza entra no rol dos imperdíveis.

Paulo Costa de Souza

Nairo de Souza Vargas

Nairo é um dos pilares do movimento junguiano no Brasil e um dos fundadores da SBPA. Mas não impede de ter sido infeliz na escolha da capa de seu livro “Terapia de casais”. Quando vi o livro pela primeira vez pensei se tratar de ‘sexologia’ e só fiquei tranqüilo quando vi o nome do Nairo Vargas na capa. A chamada na contra-capa combina um pouco com a foto e também com a cara da editora Madras; frases como “este é o livro que ajudará os casais…”, e “a partir da leitura de “Terapia de casais”, você poderá viver…” não coadunam com as colocações junguianas.

Mas não se deixem enganar pela apresentação, o livro é uma preciosidade, assim como um abacate, no qual encontramos no seu interior puro manjar. Nairo faz uma varredura ampla e didática no tema da terapia de casais. A divisão em cinco partes e estas em capítulos bem pontuados, torna a leitura fácil e fluídica, nem dá para acreditar que foi oriundo de uma tese acadêmica.

Por outro lado o livro é profundo e aborda os problemas com ambivalência, em estilo que lembra Craig. Na quinta parte, Nairo coloca alguns casos clínicos comentados e da um desfecho prático para a sua narrativa. Não é muito comum entre junguianos o estudo de casos e o autor se expôs, para não deixar o leitor com uma sensação de “falta alguma coisa”.
Nairo não precisa disto, mas deixo meus parabéns pela sua obra.

Paulo Costa de Souza

John Kerr

A história ao ser contada, sempre apresenta diferentes pontos de vista. A história da psicanálise, em seus primeiros anos, foi contada pela ótica freudiana e tendo Freud como o centro dela. Kerr veio narrar esses primeiros anos com a visão do grupo da Suíça e colocando a figura de Jung como protagonista.

Aproveitou a descoberta de documentos sobre Sabina Spielrein e fez um trabalho exaustivo de pesquisa documental, praticamente revertendo a importância de Zurique na projeção mundial do movimento psicanalítico.

O autor trata as figuras de Freud e Jung como: “humanos, demasiadamente humanos”; mas isso nos ajuda a compreender como as idéias que revolucionaram o século XX e que começaram a desabrochar no século XXI foram criadas e desenvolvidas. Tira a aura de homens-deuses, que as vezes são colocadas nas figuras históricas, e mostra que eles sangram como nós e também possuem cheiros.

O livro sobre Freud, Jung e Spielrein é fundamental para quem quer compreender a teoria da psicologia profunda e vai nos colocar na estrada da vida com mais realidade. E, quando tropeçarmos nas pedras e cairmos nos buracos, vai nos dar forças para prosseguir, pois saberemos que todos os homens antes de nós, por aí passaram…

Paulo Costa de Souza

Jette Bonaventure

Na medida que avançamos pelos dezesseis contos que compõem o livro, temos a sensação de percorrer uma galeria de artes. É como um carrossel multifacetado da mulher que, quanto mais gira, mais integra a parte com o todo. No final surge uma bela figura de mulher, uma mulher total, pronta a cumprir o seu papel de dar vida…

Jette nos mostra com suavidade e delicadeza os vários ângulos da figura feminina. Usou os contos para tornar mais lúdico a sua visão do mundo da mulher. Com a força dos seus comentários pertinentes fez um estudo penetrante da alma humana, tanto da mulher como do homem.

Ao terminar o livro lembrei-me da música ‘Escultura’, de Adelino Moreira que ficou imortalizada na voz de Nelson Gonçalves. Nela, um homem começa a estruturar uma figura feminina perfeita usando a melhor parte das mulheres mais famosas que já surgiram no mundo. No final, com a escultura pronta, depara com a imagem da sua amada, sua companheira, já tão conhecida. A mulher completa já está dentro de cada um, com a ajuda do livro vamos desvendá-la.

Paulo Costa de Souza

26 jul. 1875 – Carl Gustav Jung nasceu em Kesswil, no lago Constança/Konstanz (Bodensee), cantão da Turgóvia/Thurgau, Suíça.

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